Com a boca ensanguentada, eu ainda estava alucinado de prazer quando dei uma ultima olhada nos restos mortais da minha ultima presa. O êxtase percorria minhas veias como quem procura desesperadamente a porta de saída. O suor escorria pelo meu corpo indicando o tamanho esforço que fora utilizado para chegar ao prazer.
Comecei a caminhar sem pensar em nada. Estava totalmente anestesiado e meu corpo cansado, só pensava em adormecer.
A lua já estava alta quando acordei. Minha cabeça pesava e o meu corpo dolorido, parecia ter sido esbofeteado. A culpa me consumia. Por que fui fraco a ponto de pôr a perder tudo aquilo à que havia me condicionado, e que seguia firmemente a mais de dois anos. Definitivamente estava decidido: nunca mais sentiria tamanha dor novamente.
Os dias que se seguiram, apesar pesados, foram tranquilos. Não obstante a culpa, cada dia me sentia mais forte e decidido. A vida foi voltando ao normal e, aos poucos, a lembrança foi ficando amena.
Quatro anos se passaram e eu decidi voltar a estudar. Há muito sonhava com a medicina e agora, já ganhara o suficiente para poder bancar os estudos. As aulas começaram numa tarde de outono; o vento balançava cuidadosamente as folhas das árvores, que caiam delicadamente. Fiquei ali, na janela, apreciando quão bela e perfeita era a natureza. De repente aquele cheiro me arrancou bruscamente dos meus devaneios. Quando vi aqueles cabelos finos e levemente ondulados que, ao se moverem, permitiam dividir todo aquele perfume que embriagava, fui acometido por um desejo enorme e doentio: aquele corpo seria meu! Nada mais tinha importância. Eu faria qualquer coisa para tê-lo!
Passei então a persegui-lo e a planejar uma forma de dominá-lo para satisfazer meus desejos.
Naquela noite de verão, sentei-me debaixo de uma árvore e pus-me a esperar. Apesar da ansiedade, eu não tinha pressa. Queria aproveitar ao máximo aquele momento. Deliciava-me com os meus pensamentos enquanto aguardava. Foi então que minhas narinas reconheceram o perfume. Meu coração parecia querer saltar do peito. Senti novamente um arrepio na espinha. Reconheci ser um animal selvagem e decidi não mais lutar contra mim mesmo.
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