22 dezembro, 2011

Incertezas

Naquela noite, sabendo que eu estava quase partindo, você me pediu para ficar. Confusa e com medo, decidi não partir. Isto não era bem o que eu queria, mas era a forma mais rápida e cômoda de apagar o incêndio. Aos poucos, fui percebendo que fiz a escolha certa. Houve um momento em que tremi em pensar na possibilidade de ter te deixado. Olhei-te com outros olhos; senti medo de te perder. Senti orgulho de estar ao teu lado. A felicidade voltou para mim...
Hoje, sem motivo aparente, você está de péssimo humor. Usou sua rispidez e me tratou com desdém. Insinuou não se importar. Rasgou os meus poemas e bateu a porta. Voltei a cultivar a vontade de partir e a sentir medo. Novamente analisei os pontos, chequei os pesos. Descobri que sou covarde e você usa isso para me enlouquecer.

Ontem

Lembrei-me do passado.Você estava lá, excepcionalmente lindo, com seu blusão xadrez e com aquele seu jeitinho de menino inexperiente. Fiquei apaixonada! Consegui sentir o teu cheiro e meu coração disparou. Caminhávamos juntos e fazíamos planos. Havia paixão em nossos olhos. Conversávamos alegremente... Ah! Éramos tão jovens, tão felizes. O que foi que não deu certo? Quando foi que nossos sonhos deixaram de ser importantes? Você era tão especial e eu o admirava tanto. Onde foi que tudo isso se perdeu? Por que não conseguimos mais fazer planos, e por que parecemos não nos importar mais um com o outro? Sinto saudades daquele tempo... De quem é a culpa? São tantas perguntas, tantas dúvidas. Sinto-me insegura e com medo. Gostaria de consertar o que foi quebrado, mas não sei como. Não consigo enxergar o futuro, tampouco resgatar o passado. Sinto-me fraca. Hoje, somos dois: juntos, porém sozinhos.

Vícios

Com a boca ensanguentada, eu ainda estava alucinado de prazer quando dei uma ultima olhada nos restos mortais da minha ultima presa. O êxtase percorria minhas veias como quem procura desesperadamente a porta de saída. O suor escorria pelo meu corpo indicando o tamanho esforço que fora utilizado para chegar ao prazer.
Comecei a caminhar sem pensar em nada. Estava totalmente anestesiado e meu corpo cansado, só pensava em adormecer.
A lua já estava alta quando acordei. Minha cabeça pesava e o meu corpo dolorido, parecia ter sido esbofeteado. A culpa me consumia. Por que fui fraco a ponto de pôr a perder tudo aquilo à que havia me condicionado, e que seguia firmemente a mais de dois anos. Definitivamente estava decidido: nunca mais sentiria tamanha dor novamente.
Os dias que se seguiram, apesar pesados, foram tranquilos. Não obstante a culpa, cada dia me sentia mais forte e decidido. A vida foi voltando ao normal e, aos poucos, a lembrança foi ficando amena.
Quatro anos se passaram e eu decidi voltar a estudar. Há muito sonhava com a medicina e agora, já ganhara o suficiente para poder bancar os estudos. As aulas começaram numa tarde de outono; o vento balançava cuidadosamente as folhas das árvores, que caiam delicadamente. Fiquei ali, na janela, apreciando quão bela e perfeita era a natureza. De repente aquele cheiro me arrancou bruscamente dos meus devaneios. Quando vi aqueles cabelos finos e levemente ondulados que, ao se moverem, permitiam dividir todo aquele perfume que embriagava, fui acometido por um desejo enorme e doentio: aquele corpo seria meu! Nada mais tinha importância. Eu faria qualquer coisa para tê-lo!
Passei então a persegui-lo e a planejar uma forma de dominá-lo para satisfazer meus desejos.
Naquela noite de verão, sentei-me debaixo de uma árvore e pus-me a esperar. Apesar da ansiedade, eu não tinha pressa. Queria aproveitar ao máximo aquele momento. Deliciava-me com os meus pensamentos enquanto aguardava. Foi então que minhas narinas reconheceram o perfume. Meu coração parecia querer saltar do peito. Senti novamente um arrepio na espinha. Reconheci ser um animal selvagem e decidi não mais lutar contra mim mesmo.

Expectativas

Lenha sem lareira.
Agasalho sem frio.
Passagem sem destino.
Solução sem problema.
Cura sem doença.
Agua sem sede.
Coragem sem ação.
Resposta sem pergunta.